quinta-feira, 28 de julho de 2016

Jogando Conversa Fora

Uma vez ouvi dizer que o inverno aproximavam pessoas. Que elas tinha predisposição a sofrer de carência e outros maus de tristeza sentimental. Por isso se juntavam umas com as outras para tomar café quente e compartilhar de suas melhores histórias. Eu bem acredito na pessoa que me disse isso, mas acredito que nem sempre é assim.
Tenho por mim, que  o inverno não seja só uma estação, intenso, nunca chegará ao meio termo. A aproximação é tanta, como a distanciação. Dividido entre aqueles que amam, e os que odeiam. " Mas está muito frio!" ou "É a melhor época do ano".
Aqueles que não estão compartilhando de suas boas histórias e café, estão criando histórias boas para bebe-las depois, mais tarde. Quem sabe daqui um ano, talvez. Não sei.

May

O Homem e a Morte

O homem já estava deitado
Dentro da noite sem cor.
Ia adormecendo, e nisto
À porta um golpe soou.
Não era pancada forte.
Contudo, ele se assustou,
Pois nela uma qualquer coisa
De pressago adivinhou.
Levantou-se e junto à porta
- quem bate? Ele perguntou
- Sou eu, alguém lhe responde.
- Eu quem? torna. – A Morte sou.
Um vulto que bem sabia
Pela mente lhe passou:
Esqueleto armado de foice
Que a mãe lhe um dia levou.
Guardou-se de abrir a porta,
Antes ao leito voltou,
E nele os membros gelados
Cobriu, hirto de pavor.
Mas a porta, manso, manso,
Se foi abrindo e deixou
Ver – uma mulher ou anjo?
Figura toda banhada
De suave luz interior.
A luz de quem nesta vida
Tudo viu, tudo perdoou.
Olhar inefável como
De quem ao peito o criou
Sorriso igual ao da amada
Que amara com mais amor.
- Tu és a Morte? Pergunta.
E o Anjo torna: - A Morte sou!
Venho trazer-te descanso
Do viver que te humilhou.
- Imaginava-te feia,
Pensava em ti com terror...
És mesmo a Morte? ele insiste.
- Sim, torna o Anjo, a Morte sou,
Mestra que jamais engana,
A tua amiga melhor.
E o Anjo foi-se aproximando,
A fronte do homem tocou,
Com infinita doçura
As magras mãos lhe compôs.
Depois com o maior carinho
Os dois olhos lhe cerrou...
Era o carinho inefável
De quem ao peito o criou.
Era a doçura da amada
Que amara com mais amor.

Manuel Bandeira 

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Final Feliz

Quando ele veio até a minha casa 
e sentou na calçada confirmando o que eu já sabia, 
sem sequer falarmos uma palavra
Meu peito de cinzas frias congelou de vez.
Batendo pela ultima vez. 

Por dois longos anos 
recolhi lenha pra me aquecer.
O tempo foi meu amigo,
cuidou de mim,
me apresentando novos rostos e corpos.
Meu coração voltou a bater.

Mas me parece
que toda vez que tento me aquecer
ele sente
e vem 
de vagar
quando eu não quero.
Para nos ver, só basta Ele querer.

Conta então, nossas aventuras passadas 
e eu ouço,
sem acreditar que protagonizava tais contos,
que hoje eu não me familiarizo com a protagonista
O vestido de flanela azul florido, nem me serve mais

Elogiou minha classe 
(Que antes eu não tinha)
Acrescentando que enquanto ele envelhece 
O tempo pra mim para.
E realmente, 
Meu coração havia parado de bater,
Hoje em dia bate, 
só que mais lento como de costume 
Talvez seja isso 
que faz meu tempo ir mais de vagar que o dos outros.

Já meus olhos, 
observam tão rapidamente cada detalhe
eu não percebi
que estava tão cega 
Endeusei alguém que não devia
Olhando com meus novos olhos
Enxerguei tudo o que eu não via.

Vou dormir tranquila 
Sabendo que essa história chegou no fim.
O carinho, virou respeito. 
O respeito, Amizade.

Infelizmente demorei tempo de mais 
pra saber, 
que pra essa história terminar 
só bastava Eu querer.
Encerro aqui, todo amor e rancor que tive de ti. 

May