quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Carta para a Borboleta

Dentro da Torre de Gelo, 15 de Janeiro de 2016.

A querida-doce Mabel Cabeça de Bagre

Acho que fiquei um tempo sem te escrever desde a ultima carta. As coisas não andavam bem. Mas digo logo, que parece estarem melhorando. Saí do aquário na hora certa, estou em um novo local, onde o tempo só passa fora da torre, dentro dela o tempo para e quando não para ele passa muito devagar. Aqui também tem um aquário, só que ele esta vazio! Acredita? 
As pessoas daqui esperam muito de mim, mas não supero suas expectativas... Isso me deixa muito frustrada... Mas as coisas são assim, não é mesmo? A vida só tende a ficar mais difícil.
"Ele nunca disse que ia ser fácil, mas que ia valer a pena." - Acho que estou começando a entender.

Ouvi dizer que você esta noiva! Isso precede ou são só desverdades ditas? Mande um beijo e um abraço meu para todos, continuo com muita saudade. A minha ausência não é vã, quando terminar minha jornada eu prometo levar presentes para todos. Ah! Antes que eu me esqueça, eu vi o retrato que tiraram de ti, estava usando o medalhão que te dei, fico contente que tenha gostado!

Conheci e reconhecei algumas pessoas. Minha toca esta se reerguendo aos poucos e prometo que não vou fugir de novo, estou me empenhando bastante para deixa-la como antes ou até mesmo Melhor que antes. Espero que nós duas sobreviva ao verão. Tempos difíceis para criaturas outono-invernais, Não é mesmo? 

Blindei meu coração e agora não consigo mais amar, possui algum antídoto para tal? As borboletas no meu estomago foram embora, o que eu Faço? Sei bem que de borboletas você entende. Mas antes que você se desespere, estou achando muito melhor assim, me sinto mais forte, mais segura de mim. Desejo-lhe, dessa vez, boa sorte e boa fortuna, que seja muito feliz! Que os Deuses nos protejam.

Com amor, Mascha Cabeça de Vento  

May

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Fevereiro

Seu tempo esta acabando
em pouco tempo provou de muitos sentimentos 
dos mais doces aos mais cruéis.
Mas seu tempo ainda está acabando
E não adianta voltar a trás. 
Afinal, não se pode voltar no tempo.
Ou muda-lo porquê se quis.
Aprenda com o tempo 
Como se com ele corresse
Em grande amizade
Em grande-falsa amizade.
E claro, Antes que eu me esqueça:
Seu tempo esta acabando.

 May

sábado, 9 de janeiro de 2016

Sem compromisso

Você só dança com ele e diz que é sem compromisso, é bom acabar com isso, não sou nenhum pai-joão. Quem trouxe você fui eu, não faça papel de louca prá não haver bate-boca dentro do salão. Quando toca um samba e eu lhe tiro pra dançar você me diz: "Não, eu agora tenho par" e sai dançando com ele, alegre e feliz. Quando pára o samba bate palma e pede bis.

Chico Buarque De Hollanda

Deixa a Menina

Não é por estar na sua presença, meu prezado rapaz, mas você vai mal, mas vai mal demais. São dez horas, o samba tá quente, deixa a morena contente, deixe a menina sambar em paz. Eu não queria jogar confete, mas tenho que dizer: "Cê" tá de lascar, "cê" tá de doer... E se vai continuar enrustido com essa cara de marido a moça é capaz de se aborrecer.
Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz e atrás dessa mulher, mil homens, sempre tão gentis. Por isso, para o seu bem, ou tira ela da cabeça ou mereça a moça que você tem! 
Não sei se é pra ficar exultante, meu querido rapaz mas aqui ninguém o aguenta mais. São três horas, o samba tá quente, deixa a morena contente, deixe a menina sambar em paz.

Chico Buarque De Hollanda

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Tereza

Em uma noite muito fria uma mulher andava apressada. Uma fina nevoa saia de sua boca enquanto ela respirava. Seus dedos congelavam entorno de um pequeno pedaço de papel por dentro do bolso do paletó. Uma coruja piou triste em um dos galhos da árvore ao lado de um bar, ao vê-lo, retirou as mãos do bolso e segurou com firmeza a maçaneta da porta fazendo com que sua mão ficasse ainda mais gelada. Entrou.
Dentro do bar tinha muitas pessoas, tocava uma musica country um tanto melancólica. Homens bebiam e jogavam pôquer, no outro canto do bar alguns casais se beijavam e se olhavam sem amor.
A mulher retirou seu paletó risca de giz e pendurou no cabide. Ela usava um longo vestido vermelho que combinavam com suas jóias rubis, o cabelo castanho caia em cascatas em suas costas. Caminhou lentamente até o balcão onde o garçom secava um copo com muito cuidado.

-Dois copos de Whisky e uma morte rápida. Para viagem, por favor.

O garçom a olhou profundamente antes de se virar para preparar seu pedido. Era um homem acinzentado, de rosto comprido e com o cabelo muito preto penteado para trás. Voltou estantes depois segurando um pequeno copo de vidro e uma garrafa, serviu a moça.

- O que quer uma mulher tão jovem com a morte? - O garçom sorriu meio de lado.

- Longa história. - A mulher deu um único gole na bebida quente, fazendo seu rosto corar.

- As pessoas geralmente contam suas longas e tristes histórias antes de partir. - Dizendo isso continuou secando com determinação os copos. - Fique a vontade para se abrir.

A mulher ajeitou o cabelo atrais da orelha enquanto perdia-se em lembranças passadas.

- Havia um homem que me dava de tudo, seus olhos eram bondosos e seu sorriso gentil. - Ao falar a mulher passava a mão na pulseira em seu pulso magro. Era tal como um pai para mim... Morreu.
"O segundo foi o mais incrível dos homens, me fazia rir e tínhamos uma invejável amizade, como se fossemos irmãos. Fui feliz por uma vida inteira ao seu lado. Mas ele gostava de fugir da realidade as vezes e em uma noite fria igual a essa foi quando ele comprou sua passagem só de ida para fora da realidade. - A mão da mulher desceu aos dedos finos e compridos onde um anel com ma enorme pedra carmesim descansava.

O garçom não mais secava o copo, prestando atenção apenas na triste histórias de perdas da mulher a sua frente. Encheu o segundo copo da moça quase automaticamente.

"Agora, como eu vim parar aqui, tem haver com o ultimo homem. Apos a morte do ultimo quem eu havia dito, vaguei sem rumo e em uma dessas estradas encontrei um homem que dividia a mesma tristeza que eu. Ele me entregou esse colar, - Uma enorme pedra vermelha em formato de coração - Disse-me que poderíamos ter sido felizes em outa época, em uma situação diferente, e que seu tempo estava acabando. Retirou seu paletó e colocou em mim sem me perguntar nada. Me apaixonei por sua tristeza.
Quando coloquei a mão dentro do bolso havia um papel e uma pequena caixinha...  -Dizendo isso, a mulher se levantou indo até onde havia deixado o paletó. Enfiou a mão nos bolsos retirando uma caixinha da qual contava retornou apressada ao seu lugar. Veja, essa era a caixa."

Como se tivesse sido acordado de um sonho, o garçom voltou a sua antiga falta de expressão, falou:
- Eu me lembro desse homem. Ele veio aqui não faz muito tempo. Pediu o mesmo que você, mas não bebeu nada aqui. Ele estava com pressa de se encontrar com a morte.

A mulher levantou-se, já estava meio inquieta, vendo-a daquele jeito, o garçom saiu mais uma vez para buscar seu pedido. Trouxe uma caixa com um pedaço de papel em cima.

- Aqui está o seu pedido senhorita. Será por conta da casa.

-Obrigada.

A mulher pegou a caixa, vestiu seu paletó risca de giz e saiu noite a fora. Deixou que o vento frio beijasse sua pele antes de continuar a andar. Virou-se e viu a placa "Noite dos Suicidas" deu um breve sorriso e foi se encontrar com o homem dos olhos tristes.

May