segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Bosque da Solidão

                Tudo começara ali naquela rua em frente ao bosque, onde o chão da rua e da calçada parecia ser feito de pedrinhas preciosas. Era de tarde, quase noite. Todos os dias durante as seis e quarenta a cinco, um homem passava trajando terno e gravata, com seu chapéu na cabeça e sua pasta na mão. Antes de atravessar, ajeitava o chapéu e olhava para os lados.
Naquele dia quando o homem passou ao ajeitar o chapéu um vento forte o levou fazendo cair no meio da rua. Rapidamente olhando para os lados o homem se inclinou para pegar o chapéu. O homem não via o caminhão que se aproximava em alta velocidade em sua direção. Porem alguém observava os dois de dentro do bosque.
Daremos uma breve pausa para dizer que naquele dia, de manhã Leonardo um homem de meia idade cabelos grisalhos e barria protuberante levantava-se, beijou sua esposa, se arrumou e saiu para mais um dia de trabalho comum.
Leonardo chegou ao trabalho e recebeu ordens de ir até o centro para levar a cadela insuportável do seu chefe para as filhas dele que era ainda mais insuportável. Leonardo tinha muitas coisas para fazer então resolveu tomar um atalho, mas desistiu resolvendo fazer o seu trabalho antes. A cadela ficou a tarde inteira de um lado para o outro, sujando tudo por onde passava e ao fim do dia, Leonardo resolveu leva-la para casa de suas donas. No meio do caminho, aquele maldito animal pulou para o banco da frete e passou a comer os fios do radio.
                Foi uma infelicidade dizer que Leonardo não viu o homem e que o homem não viu Leonardo. O caminhão passou por cima do homem, causando um tremendo estrago.
                E morreu.
                Não, isso não aconteceu. Não aconteceu porque lá em cima eu contei que alguém via toda aquela cena, não disse? Então. Esse alguém não deixou que nem o homem nem Leonardo se conhecessem. Antes da vil batida, aguem que olhava o homem passar todos os dias, o arrastou e o levou para dentro da escuridão do bosque que era escondido dos olhos curiosos.
                Quando o homem abiu os olhos a primeira coisa que viu foram dois belíssimos olhos cor de ouro, não eram castanhos nem amendoados era ouro e estavam muito molhados, feito ouro derretido. Tão belos que o homem se esqueceu da rua, do chapéu, do caminhão e de todo o resto. Esqueceu-se de tudo e passou a focar apenas nos olhos e notou que os olhos faziam um belíssimo conjunto com o rosto delicado de boneca de porcelana, cílios compridos e cheios que se enroscavam nos cabelos dourados que caiam em cascatas de cachos abertos.
                O homem não conseguia ler a expressão do rosto da moça, que mesmo naquele estado de choque era tão bela como um anjo. Não queria parar de olha-la, mas se obrigou a olhar em volta. Observando tudo a sua volta e chegou à conclusão que estava no bosque que ficava frete a rua que ele passava todos os dias ao voltar do trabalho quando caiu m si, tentou se levantar e alar com a moça porem suas palavras não saia de sua boca. Sua visão foi ficando turva e escurecendo até que apagou completamente. A única coisa que se lembrou de ter visto, foi à visão da moça que não o deixava de encarar.
                Novamente o homem acordou e ao abrir os olhos estava em pé parado do outro lado da rua que dava para o bosque, olhou para o relógio que marcava exatamente seis e quarenta e seis. Segurou o chapéu ao sentir que um forte vento se aproximava, olhou para o lado e viu um caminhão se aproximando. Teve um sentimento de de-já-vu sem acreditar que tudo aquilo não havia passado de um sonho. Será que estava trabalhando de mais? Olhou para o bosque e sentiu olhares vindos de lá, isso foi o suficiente, atravessou a rua e adentrou o bosque.
                – Quem está ai? – Perguntou dando um grito tão desesperado sentindo-se um louco.
                Aproximou-se do arbusto que se mexia – Era ali que ela estava? –Mas ao se aproximar um gato de pelo eriçado creu para longe dali.
                O homem saiu frustrado, não passava de um sonho que acabara de ter e saiu sentindo-se um idiota.

Eu poderia dizer que o homem foi embora pensando que era tudo um sonho, que não ouve beijo nem final feliz, mas eu vou contar o que realmente aconteceu...
Quem via todo dia aquele homem no “Bosque da Solidão” era um anjo solitário, que o roubou seu coração, Ah, foi ela quem salvou o homem.  A partir daquele dia o homem toda vez lembrava-se do que lhe acontecera naquela tarde. Deus vendo o que acontecia, sentiu a tristeza pelo pobre anjo que continuava vigiar. Bom, esse é um final clichê, que você já sabe o que acontece. Deus transformou o anjo em mulher humana para que ele ficasse junto do homem. Mas o homem já era casado e não quis ficar com uma mulher que aparece do nada em sua vida. Isso seria uma tragédia pior que o acidente, mas isso também não aconteceu.
O anjo que agora era mulher se casou com o homem e por fim, viveram felizes para sempre iguais àqueles casais clichês.

FIM



May

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A Toca da Coruja

            “Respeitável publico! Sejam bem vindos!”
-Novamente? Será que ela ouviu “novamente”?
A coruja migrou de um galho para o outro tentando ouvir melhor o grande espetáculo que ocorria, mas a frente.
                Retornar para sua toca era algo muito difícil, passou tanto tempo que ela esqueceu o caminho de casa. Empoleirou-se em uma arvore silenciosa prestando atenção no grande show.
                “Senhoras e senhores! Sejam bem vindos ao nosso maravilhoso espetáculo!”
Ao terminar o show a coruja retornou para sua velha toca esquecida, relembrando o espetáculo. Seus olhos cansados fechavam-se em um maravilhoso sonho lembrando-se de suas antigas palavras que foram perdidas porem, não esquecidas.
                Sejam bem vindos novamente para a toca da coruja.

May