terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Tereza

Em uma noite muito fria uma mulher andava apressada. Uma fina nevoa saia de sua boca enquanto ela respirava. Seus dedos congelavam entorno de um pequeno pedaço de papel por dentro do bolso do paletó. Uma coruja piou triste em um dos galhos da árvore ao lado de um bar, ao vê-lo, retirou as mãos do bolso e segurou com firmeza a maçaneta da porta fazendo com que sua mão ficasse ainda mais gelada. Entrou.
Dentro do bar tinha muitas pessoas, tocava uma musica country um tanto melancólica. Homens bebiam e jogavam pôquer, no outro canto do bar alguns casais se beijavam e se olhavam sem amor.
A mulher retirou seu paletó risca de giz e pendurou no cabide. Ela usava um longo vestido vermelho que combinavam com suas jóias rubis, o cabelo castanho caia em cascatas em suas costas. Caminhou lentamente até o balcão onde o garçom secava um copo com muito cuidado.

-Dois copos de Whisky e uma morte rápida. Para viagem, por favor.

O garçom a olhou profundamente antes de se virar para preparar seu pedido. Era um homem acinzentado, de rosto comprido e com o cabelo muito preto penteado para trás. Voltou estantes depois segurando um pequeno copo de vidro e uma garrafa, serviu a moça.

- O que quer uma mulher tão jovem com a morte? - O garçom sorriu meio de lado.

- Longa história. - A mulher deu um único gole na bebida quente, fazendo seu rosto corar.

- As pessoas geralmente contam suas longas e tristes histórias antes de partir. - Dizendo isso continuou secando com determinação os copos. - Fique a vontade para se abrir.

A mulher ajeitou o cabelo atrais da orelha enquanto perdia-se em lembranças passadas.

- Havia um homem que me dava de tudo, seus olhos eram bondosos e seu sorriso gentil. - Ao falar a mulher passava a mão na pulseira em seu pulso magro. Era tal como um pai para mim... Morreu.
"O segundo foi o mais incrível dos homens, me fazia rir e tínhamos uma invejável amizade, como se fossemos irmãos. Fui feliz por uma vida inteira ao seu lado. Mas ele gostava de fugir da realidade as vezes e em uma noite fria igual a essa foi quando ele comprou sua passagem só de ida para fora da realidade. - A mão da mulher desceu aos dedos finos e compridos onde um anel com ma enorme pedra carmesim descansava.

O garçom não mais secava o copo, prestando atenção apenas na triste histórias de perdas da mulher a sua frente. Encheu o segundo copo da moça quase automaticamente.

"Agora, como eu vim parar aqui, tem haver com o ultimo homem. Apos a morte do ultimo quem eu havia dito, vaguei sem rumo e em uma dessas estradas encontrei um homem que dividia a mesma tristeza que eu. Ele me entregou esse colar, - Uma enorme pedra vermelha em formato de coração - Disse-me que poderíamos ter sido felizes em outa época, em uma situação diferente, e que seu tempo estava acabando. Retirou seu paletó e colocou em mim sem me perguntar nada. Me apaixonei por sua tristeza.
Quando coloquei a mão dentro do bolso havia um papel e uma pequena caixinha...  -Dizendo isso, a mulher se levantou indo até onde havia deixado o paletó. Enfiou a mão nos bolsos retirando uma caixinha da qual contava retornou apressada ao seu lugar. Veja, essa era a caixa."

Como se tivesse sido acordado de um sonho, o garçom voltou a sua antiga falta de expressão, falou:
- Eu me lembro desse homem. Ele veio aqui não faz muito tempo. Pediu o mesmo que você, mas não bebeu nada aqui. Ele estava com pressa de se encontrar com a morte.

A mulher levantou-se, já estava meio inquieta, vendo-a daquele jeito, o garçom saiu mais uma vez para buscar seu pedido. Trouxe uma caixa com um pedaço de papel em cima.

- Aqui está o seu pedido senhorita. Será por conta da casa.

-Obrigada.

A mulher pegou a caixa, vestiu seu paletó risca de giz e saiu noite a fora. Deixou que o vento frio beijasse sua pele antes de continuar a andar. Virou-se e viu a placa "Noite dos Suicidas" deu um breve sorriso e foi se encontrar com o homem dos olhos tristes.

May

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