sábado, 14 de abril de 2018

Amai também os felinos

Acordei indignada comigo mesma, tão dona de mim, não me vi quando me olhei no espelho. 
Perdi a noção do apego em algumas pessoas, cortei até os cabelos. E com eles, se foram a graça.
Ganhei uma nova identidade. Agora podia claramente agir como se eu fosse alguém diferente. 
Renovamos as cores, gostos, amores... O fantasma do medo de me relacionar ainda vem, mas aprendemos a nos gostar. Estou mais preparada, eu sei lidar com ele.
E quem diria que os amigos dos meus amigos, e os amigos deles, se tornariam os meus próprios amigos.

Sabe,
Como alguém consegue abandonar filhotes de gato no meio da rua?

May

quarta-feira, 28 de junho de 2017

A Morte

A morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta ideia: MORRER!!! A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente... De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça. Por isso viva tudo que há para viver. Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida... Perdoe... Sempre!!!

Pedro Bial

domingo, 9 de abril de 2017

Dedos com cheiro de manga

Acorda, come, bebe, anda, corre, dança, dorme.
Se pentear os cabelos resolvessem
faria isso sempre. 

May

terça-feira, 14 de março de 2017

Unilateral


Em um dia eu posso me encantar com suas cores
Você me apresentaria um mundo de novidades
Faria com que eu me encantasse.
Acontece que eu passei a estipular um prazo para gostar de pessoas,
Gostar eu digo, amor romântico.
E três meses era o tempo máximo.
No meu roteiro inclui amar e depois sofrer e depois amar de novo.
As vezes sonho com estabilidade, e algo que não seja unilateral.
Mas eu não sei tricotar, deixo sempre as ponta soltas.
Muitos começos e nenhum final.
Eu vou e volto.
Tentando aprender como é que isso de se relacionar funciona.


May



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Corina

As damas do seculo 19 eram muito elegantes. Corina também, tinha olhos espertos cor de chumbo e um longo pescoço pálido como uma coluna de gesso. Em seu decimo nono aniversario casou-se com um homem mais velho para unir a fortuna de suas famílias.
O homem era Arthur, 35 anos. Seu divertimento era colecionar machados, afia-los, e arremessa-los. (Ha, ha, ha, minha Machadinha)
Nunca se apaixonara por alguém até encontrar Corina em uma de suas viagens. A garota tina nascimento nobre, e isso o agradou, no começo ela parecia fria a seu relacionamento, mais depois passou a ser indiferente. Talvez outros homens achariam isso ruim, uma esposa não afetuosa, mas para Arthur, Corina era perfeita. Tão fria como suas laminas e isso o deixava confortável.

Cinco anos após o casamento, Corina não havia gerado filhos, o inverno tinha finalmente acabado e com a prima-vera mudaram-se novas pessoas em seu bairro. vizinhos estrangeiros. Enquanto seu marido se trancava com suas armas, Corina ficava os observando de seu quarto.
Uma tarde, o casal fora convidado pelos novos vizinhos para uma festa.
Na festa havia muitas pessoas, e Corina quase se sentia entediada quando um cavalheiro do outro lado atravessou o salão ofegante cumprimentando os anfitriões.
A parir daquele instante os olhos da moça não abandonaram o mais recente convidado.
Tristan, era meio irmão do anfitrião da festa, tinha acabado de fazer 28 anos e viera passar um tempo com seu irmão mais velho. Rapidamente encontrou os olhos de Corina, e teria sido feliz se ela não estivesse acompanhada.

Naquele verão Arthur ficou muito ocupado com seus assuntos de trabalho, não conseguia arrumar pouco tempo se quer para seus machados.
Corina também se ocupara. Ocupou-se de ir visitar todos os dias a sua vizinha. Ocupou-se de ver e conhecer Tristan mais vezes. Ocupou-se mais ainda de sua cama. Partia triste todas as vezes quando vinha o fim do dia. Foi até feliz algumas noites quando Tristan vinha ocupar sua cama.
Com as folhas secas de outono, veio também a desconfiança. Arthur notara algo de errado com Corina, mas esperou, era frio e paciente. Não a tocara uma unica vez, ela tornou-se insensível até mesmo a seu "bom dia". Então, para seu desespero, descobriu da forma mais ridícula que sua belíssima esposa ficara gravida de outro alguém. A loucura tomou posse de si, e trancou-se por um longo tempo em sua sala, afiando... Afiando...

Apos aquele tempo, saiu do quarto armado, a procura de sua esposa impura. Encontrou a garota suspirando na janela, olhando em direção ao bastardo.
A  cena o destruiu por dentro. Não seria feliz enquanto a quela maldita não morresse. Corina correu para defender não a si, mas a criança que em nela estava. Desesperada tentou acalmar o homem transtornado.
- Quem te pois a mão sabendo que és minha?!? - Dizia entre os dentes.
Corina estava a dois passos próximo a escadaria. Calculou suas opções , antes de vestir seu sorriso mais terno.
- Se és "meu" eu também sou tua. - A voz saiu doce de seus lábios trêmulos.
Indignado com a falsidade da moça, arremessou o machado em sua direção, esse por pouco não a acertou. Assustada, a garota correu para fora da casa. Não havia lua naquela noite, e a rua parecia mais escura do que o costume. (Pula machadinha para o meio da rua )
Arthur saiu de casa descompensado, gritando que ela viraria uma meretriz, e que ela jamais voltaria para casa. Dormira com os porcos, comeria com eles também.

Corina, apos se recompor, Não perderia sua postura, vivera como um objeto até então, e por ser feliz um único verão, sera castigada pelo resto de sua vida. (No meio da rua Não ei de ficar.)  Não se arrependeria. voltou antes do sol para dentro do casarão, movida pelo impulso. matou Arthur que dormia pesadamente. Estava em estado de choque quando terminou, gritou para os criados que um homem invadiu seu quarto durante a noite revirando as coisas de Arthur, sem encontrar o que procurava, ficara transtornado. E o pobre Arthur que tentara protege-la, fora brutalmente assassinado. O velório ocorreu na quela tarde. Corina chorou durante dias, todos ficaram horrorizados, "Pobre Arthur, nem se quer conhecerá a criança."

Quando tirou seu luto já era verão novamente e com o verão, vieram os pretendentes.Corina que era bonita e jovem casou-se novamente. Não houve uma unica noite em que se esquecera do que fez. As vezes nas noites sem lua, Corina cantava para se livrar do fantasma de seu passado

"Ha, ha, ha minha machadinha.
 Quem te pois a mão sabendo que és minha? 
Se és minha eu também sou tua. 
Pula machadinha para o meio da rua. 
No meio da rua não ei de ficar. 
Porque tenho Tristan para ser meu par..."

Fim



May



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A garota do Zoológico

Antigamente, quando eu ainda era jovem, existia uma pequena parte do meu dia que muito me agradava. Quando estava próximo de voltar prara casa, já imaginava se iria vê-la sentada no segundo banco da janela esquerda.

Dificilmente o ônibus lotava, então eu sentava do lado direito, uma cadeira atrais para poder apreciar o meu pequeno espetáculo diário. Era uma garota alta que se sentava desconfortavelmente entre os bancos estreitos. Usava sempre um casaco feito de crochê meio gasto e calcas azuis, seus enormes olhos castanhos ficavam ainda maiores por de trais das lentes espessas.
Todos os dias a encontrava lendo vigorosamente um desses livros que não estão na prateleira dos mais vendidos, enquanto mascava seu chiclete e nos revelava uma proeminente corcunda.

Então, quando passávamos pelos muros do zoológico, ela levantava a cabeça, se setava ereta e fechava os olhos. Inspirava fundo o ar, como se aquilo fosse uma especie de ritual. - Arrisquei inspirar o ar junto dela algumas vezes, para tentar desfrutar daquela sensação, mas eu, provavelmente não passaria aquela imagem agradável.

Lembro- me da ultima vez que a vi. Foi exatamente igual as outras vezes, nada de mais. Mas quando ela parou de se sentar no segundo banco da janela da esquerda, senti falta de vê-la ter a quela atitude engraçada, mas ali, toda vez que passava perto do zoológico, percebi aos poucos que todos os passageiros paravam para sentir o ar puro e sem poluição de cidade grande.


May


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Vampiro

Eu uso óculos escuros pras minhas lágrimas esconder e quando você vem para o meu lado, ai, as lágrimas começam acorrer e eu sinto aquela coisa no meu peito, eu sinto aquela grande confusão, eu sei que eu sou um vampiro que nunca vai ter paz no coração.
Às vezes eu fico pensando porque é que eu faço as coisas assim e a noite de verão ela vai passando, com aquele seu cheiro louco de jasmim. E eu fico embriagado de você, eu fico embriagado de paixão, no meu corpo o sangue não corre, não, corre fogo e lava de vulcão.
Eu fiz uma canção cantando todo o amor que eu sinto por você, você ficava escutando impassível e eu cantando do teu lado a morrer... E ainda teve a cara de pau... De dizer naquele tom tão educado "Oh! pero que letra más hermosa, que habla de un corazón apasionado" .
Por isso é que eu sou um vampiro e com meu cavalo negro eu apronto, e vou sugando o sangue dos meninos e das meninas que eu encontro. Por isso é bom não se aproximar muito perto dos meus olhos senão eu te dou uma mordida que deixa na sua carne aquela ferida. Na minha boca eu sinto a saliva que já secou de tanto esperar aquele beijo, ai, aquele beijo que nunca chegou, você é uma loucura em minha vida Você é uma navalha para os meus olhos, você é o estandarte da agonia que tem a lua e o sol do meio-dia.

Jorge Mautner 

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Jogando Conversa Fora

Uma vez ouvi dizer que o inverno aproximavam pessoas. Que elas tinha predisposição a sofrer de carência e outros maus de tristeza sentimental. Por isso se juntavam umas com as outras para tomar café quente e compartilhar de suas melhores histórias. Eu bem acredito na pessoa que me disse isso, mas acredito que nem sempre é assim.
Tenho por mim, que  o inverno não seja só uma estação, intenso, nunca chegará ao meio termo. A aproximação é tanta, como a distanciação. Dividido entre aqueles que amam, e os que odeiam. " Mas está muito frio!" ou "É a melhor época do ano".
Aqueles que não estão compartilhando de suas boas histórias e café, estão criando histórias boas para bebe-las depois, mais tarde. Quem sabe daqui um ano, talvez. Não sei.

May